Ela vive há 25 anos com o HIV. Bem-humorada e com um sorriso contagiante no rosto, a auxiliar de limpeza Selen Soares mostra que receber o diagnóstico de infecção pelo vírus não tem nada a ver com a “sentença de morte” imaginada ainda por muita gente. Aos 46 anos, ela segue com disciplina a rotina diária de medicamentos. Disciplina que lhe garante há quase dois anos a carga viral indetectável. Notícia que toda pessoa almeja receber ao iniciar o tratamento com os antirretrovirais.
A medicação, quando tomada todos os dias, trará a redução da quantidade de HIV para níveis indetectáveis no sangue. Estar indetectável significa uma vida com maior qualidade, com sistema imunológico funcionando e uma expectativa de vida igual à da média geral da população.
Selen recebeu o diagnóstico em 1993 ao ser internada no hospital com suspeita de tuberculose. Os exames também deram positivo para a infecção com o vírus. “Eu entrei em desespero. Meu mundo desabou. Achava que morreria. Parei de comer”, lembra. “Entrei no hospital com 56 quilos e cheguei aos 30. Fiquei muito feia. Eu me via no espelho e não me reconhecia”.
Na época, ainda não havia protocolos que determinassem a internação de travestis e transexuais nas alas femininas. Selen era a única transexual dividindo a enfermaria com homens cisgêneros. “Isso me deprimia muito. Como eu estava muito fraca, eu não conseguia le- vantar. Tomava banho na cama. Todos eles me viam nua. Era muito ruim. Tudo isso me deprimia”.
A volta por cima aconteceu com o apoio da família, do namorado e da médica. “Eles me incentivaram a lutar. Voltei a comer. Voltei a querer viver. A doutora me deu todo o apoio. Me deu a atenção para que eu voltasse a ficar bem, saudável”. Depois de oito meses de recuperação, Selen teve alta e começou a retomar a vida. Desde então, faz acompanhamento regular em uma unidade de sáude no Centro do Rio. Com o tempo, ela compreendeu a importância de manter a carga viral indetectável para garantir o bem-estar do organismo.

“Teve uma vez que cheguei a ficar uma semana sem tomar a medicação. Era um outro tempo. Eu tomava quatro comprimidos de manhã e quatro à noite. O remédio antes era do tamanho de um Sonrisal que tinha que quebrar pra conseguir tomar. Quando fui fazer exame, deu alteração na minha carga viral. Aí fui entendendo que não poderia ficar sem tomar o remédio todo dia”.
“Eu digo para as pessoas que estão descobrindo agora que tem o HIV que a pior fase para quem vive com a doença já passou. Antes eram quatro comprimidos de manhã e quatro à noite. Agora eu tomo apenas três e uma vez ao dia. Se a pessoa entende que tem que tomar os remédios todos os dias, a vida vai ser normal como a de qualquer outra pessoa. Tome a medicação. Eu já parei de tomar e deu merda. Cuida da sua saúde e viva a vida”.
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